Estamos dando marcha ré na formação de nossos condutores?

25/05/2012 11:05

 

Escrevo este artigo com o intuito de propor uma reflexão sobre a formação de nossos condutores. Certa vez, saindo de um shopping de Porto Alegre, presenciei a cena de uma condutora tentando sair de uma vaga de estacionamento. Ela entrou de frente na vaga, mas precisava sair de ré. O espaço não era dos maiores, mas, se ela mantivesse o carro alinhado, seria possível sair sem dificuldades. Acontece que ela não conseguia manter o carro alinhado. A cada tentativa de ir para frente e para trás, a coisa piorava, pois o carro ficava ainda mais "torto". Quem passava observava, ria, balançava a cabeça, deixando moça em questão cada vez mais ansiosa, até chegar o ponto de se encurralar. Caso ela avançasse mais alguns centímetros para trás, bateria no carro ao lado, mas ela não tinha visão suficiente para ir para frente, então desceu do carro e ficou dando voltas no veículo, buscando uma solução para o seu problema. Enquanto isso, eu, que observava a situação enquanto esperava desocupar uma vaga para estacionar, me dirigi até ela e a ajudei a tirar o carro da vaga, orientando as manobras pelo lado de fora do veículo. Sou psicóloga e trabalho com pessoas que apresentam dificuldades ao volante e me sensibilizei com aquela situação, procurando tranquilizar a moça, que estava visivelmente constrangida. Ela me confidenciou que tem problemas com a marcha ré, nunca sabe para que lado deve virar o volante, que chega a evitar dirigir porque não consegue estacionar, principalmente em shoppings e supermercados muito movimentados, onde o estacionamento é perpendicular. Enfim, ela me agradeceu e foi embora.

Contei esta pequena história para ilustrar uma das dificuldades que muitas pessoas recém-habilitadas (e algumas habilitadas há mais tempo!) apresentam, porque recentemente a manobra em marcha ré deixou de ser cobrada nos exames práticos de direção veicular no RS. Atualmente, os candidatos não precisam colocar o carro de ré na "garagem" simulada com cones. Entendo que mesmo quem exercita esta prática possa apresentar dificuldade, mas acredito que ela seja maior em quem não a exercita. Estacionar utilizando a marcha ré é uma situação comum para quem dirige e sabe-se que o ideal é proporcionar ao aluno o maior contato possível com situações reais. As teorias de aprendizagem corroboram esta afirmação. A expectativa é que, mesmo sem a cobrança desta manobra no exame prático de direção, os instrutores conscientizem seus alunos da importância de realizar exercícios em marcha ré, para que eles estejam melhor preparados, não apenas para a prova, mas para a vida no trânsito.

 

Fonte: https://wp.clicrbs.com.br/doleitor/2012/05/25/artigo-estamos-dando-marcha-re-na-formacao-de-nossos-condutores/?topo=13%2C1%2C1%2C%2C%2C13